Estava fechada, a porta. Durante meses permaneceu assim. Sempre passava pela frente desta, mas minhas veias dilatavam ao sentir meu sangue por entre elas. Meu coração corria mais rápido. Estática permanecia. E mesmo assim dava-me conta de que era hora de seguir em frente e puxar do bolso aquela chave enferrujada. Pensei realmente em torcê-la na maçaneta, mas todos aqueles sintomas recomeçavam a articular em mim.
Virei de costas. Foi aí que o vi. E como se flutuasse me acalmei. Acalmou-me. Aqueles olhos grandes, cor de terra seca, fitavam meu “dentro” e sem pensar muito, quase que hipnotizada por aquela cor daqueles olhos gigantes, entreguei o objeto enferrujado sem pestanejar.
Foi então que fez o que há tempos não tive coragem de fazer.
Ao ranger da porta, olhávamos as cores fluorescentes, misturando-se umas às outras, multicolorindo-se em formas abstratas, porém concretas ao tocar nas peles ali presentes. Eram suaves em momentos e ríspidos em outros. E mesmo assim eu gostava. Sabia que era assim que as cores funcionavam. Podia sentir aquele gozo de ansiedade e satisfação. Podia as sentir tocarem-me durantes horas a fio. Mas também sabia que em certo momento aquela sopa de sentimentos e cores acabaria. Só não imaginava que se esgotariam no momento em que fui trancada ali pelos olhos de terra. Olhos de terra seca.
Permaneço aqui dentro. Esperando alguém torcer a maçaneta e poder ver-me multicolorindo, mais uma vez, às cores que agora não consigo fluorescer.
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