sexta-feira, 29 de outubro de 2010

À la "Here comes right now"

Era sempre do mesmo jeito. Acordava, se olhava no espelho e envelhecia, meio que inconsciente, uns sete ou dez anos. Imaginava se seus olhos estariam felizes. Ou se estariam como agora, cansados. O fato é que ela já tem tudo em mente. Todos esses planos que se costumam fazer [ou que, de certa forma, nos são impostos grosseiramente] sobre a vida, já fazem parte do mundo que guarda em seus pensamentos há certo tempo.

Porém vai além. Não são sonhos referentes apenas ao que todo mundo deve ter quando cresce e vira gente-grande. Ela já sabe a cor da cortina da sala, do título de cada livro posicionado um em cima do outro na prateleira, das cores das almofadas em cima da cama. Dos nomes dos vinis, ao lado dos livros. Dos desenhos feitos por ela, os quais retrataram, retratam e vão retratar cada momento de sua vida.

E ela também já sabe com quem dividir isso tudo. Sem nem mesmo tê-lo conhecido, nem visto seu rosto e nem escutado um timbre se quer. Mas já sabe quais conversas terão, quais músicas escutarão nesses momentos, quais livros lerão e comentarão sobre.

Porém, tristemente, ao lavar o rosto, voltava a olhar sua face atual. É, se entristecia sempre que a via verdadeira. Entretanto, logo percebia, alegremente, que sua selvagem e sábia feminilidade, sua introspectividade embutida nos seus erros e tolices do passado, serão recompensados por tudo o que vê ao envelhecer na frente do espelho.

Paixão e chuva, coisas psicoativas.

Sabe do que ela gosta? De se apaixonar no inverno.

Aquele clima gelado chuviscante é tão propício a coisas a dois: assistir a um filmecompipocadebaixodolençol, jogar baralho, conversar sobre as letras daquela música daquela banda com aquele arranjo doido e pesado, ir pra cozinha fingir que é mestre-cuca e fazer uma gororoba qualquer quando bate a fome e coisa e tal e tal e coisa.

E se for um temporal com relâmpagos, trovejos e queda de energia? Nesse caso basta dormir e dormir e dormir com a cabeça enterrada no travesseiro sabendo que tem ali ao seu lado a tal pessoa.

O papo é estar apaixonada no inverno.

Pra mais tarde, acordar, quando passar a chuva, andar pela calçada atrás de um bar, tomar umas muito bem acompanhada e bater papo até cansar. E assim que cansar ir embora pra...

O papo é estar apaixonada. No inverno.

Ta oquei, o papo mesmo é que seja recíproco. Por que se não, fudeuMas fazer o quê? As coisas apenas acontecem. Muitas vezes sem planejamento.

Talvez ela precise mesmo é de um psicólogo que tire de sua massa encefálica toda essa neura constante de planos infalíveis pra conquistar o mundo e a receite um psicotrópico eficiente [Sonho].

domingo, 17 de outubro de 2010

Andando em domingo

Aquele domingo de sol fraco era proprício a caminhar, com mão no bolso e cigarro entre os dedos. Foi o que fez.

No quarto havia pilhas de apostilas e textos. Umas espalhadas e outras amontoadas pela cama, sofá e por aquela escrevaninha antiga e já defasada, presente no cômodo desde a sua infância.

Com todas aquelas coisas pra ler, com toda aquela coisa acadêmica e obrigações a cumprir, não achava ali nenhuma concentração. A cada junção de letra, na tentativa de formar uma única palavra, mergulhava nos seus pensamentos e se afogava na própria confusão.

Saiu e caminhou. Andava e procurava insistentemente nos rostos das pessoas um sorriso de satisfação, de prazer, ou qualquer outra sensação boa que, no momento ela não conseguia sentir.

Até achar dois sorrisos, um em cada rosto, e prender toda a concentração que achou por meia hora neles. Era um casal de velhinhos. Conversavam e riam e trocavam carinhos tímidos. Era aquele tipo de sorriso de satisfação, por ter vivido tudo o que viveu, por ter vivido ao lado de quem eles gostavam, amavam. Era um sorriso feito coisa de filme “água-com-açúcar”, no qual o casal enfrenta todas as dificuldades do mundo sentimental, familiar, financeiros e outros tantos problemas da vida e no fim de tudo sempre superam e vivem felizes para sempre.

Se isso existe hoje em dia? Ela não sabe responder. Só sabe que torçe realmente pra que isso não seja apenas coisa de filme.

Fim de semana:

Diane - Transpotting [Da internet, gostei e 'roubei']

Pessoas e conversas entrelaçadas ao meio de bebidas e fumaças. Risos altos, aparentemente felizes, uma fuga talvez. De toda essa realidade semanal esgotando e limitando nosso físico e mental.
Ouvir o som de umas notas, efervescentes entre aplausos. Gritos eufóricos ao reconhecimento de melodias significativas para si. Que acabam por refletir sensações, pensamentos e vontades quando o som, as notas, o ácool, a fumaça, os papos e cheiros se misturam a todo aquele momento de efusão.

domingo, 3 de outubro de 2010

Sentimentos vestidos


Era uma vez uma agonia. Constante e quase que mecâncica, presente e feminina. Dentro de um corpo pequeno, se fazia grande. Quase nunca saía pra dar uma volta, tampouco sabia o motivo de sua existência. Mas morava ali, dentro da menina.

Certo dia, em mais um de seus instantes filosóficos expressivos em rios e mais rios salgados, conhecera algo que nem todo mundo conhece. Que nem todo mundo reconhece e que às vezes mora tão próximo, mas não é visto.

Ela o avistara e então, logo de cara, sentira a dúvida, essas que todos têm no início. Passara-se um tempo, não muito longo, e soubera o que era de fato, soubera seu nome também. Uns o chamam de amor, outros o confundem com paixão. É, fato que eles se vestem bem parecido, têm quase o mesmo estilo, mas logo o tempo se encarrega em definir suas diferenças.

Aquele que conhecera naquele dia era a paixão. E sabe, a dona da agonia gostava bem desse, estranhamente se sentia confortável. Estranhamente sim, pois desde quando a instabilidade, alternância de sentimentos que a paixão proporciona é confortável? Enfim, a agonia e a dona dela se sentiam bem assim.

O tempo passara e a paixão se transformara em amor. Se, é possível? Alguns acham que sim e com a agonia não fora diferente. Era boa a compania da paixão transferida em amor. Era calmo, grato e bonito. Porém a agonia, que houvera então se tornado calmaria, tinha esquecido um detalhe que a maioria esquece. Talvez por que acha quase impossível acontecer naquele momento. Esquecera que às vezes o amor mente, engana, trapaceia. Se, é amor então assim? Ninguém sabe. Ele é tão grandioso em seu tamanho e tão vasto de sentimento que se torna coisa tão inexplicável que a ciência, dona de muita verdade, não consegue entendê-lo.

Depois de ter esquecido o detalhe, virara agonia outra vez. E continua vestida de agonia até hoje. Esperando reconhecer aquele outra vez, mas noutro lugar.