quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Quarto

Dançavam àquele som familiar que saia do play list do computador próximo à janela. A luz cinza e nublada adentrava naquele espaço pequeno, o suficiente pra iluminar a lágrima que escorria do rosto mais triste daquele quarto.

O outro olhar, seco, lhe cessava as lágrimas aos poucos. Mas ainda era preciso muito pra que lhe fizesse trocá-las por o mínimo de sorriso possível. Era preciso muito que dizer, muito que beijar, muito que abraçar, muito que ouvir.
A musica acelerava enquanto os corações batiam. Chegou a hora, ela sabia. Mas cadê a coragem?

Eis que surgiu.

As palavras iam lhe escorrendo desesperadas pela boca, assim sem racionalizar. Eram vomitadas em cima da camisa branca que iluminava perfeitamente o castanho daquele olhar seco e insistente em se manter assim. Os palavrões saiam doces e o que tinha de mais bonito a ser dito saiu amargo. Mas não podemos culpá-la. A culpa foi do tempo, das lágrimas. Da época e das estrelas. Do medo de se estar sob elas. Do medo de não ser vista por elas.

Entendes? A culpa foi sempre das estrelas.

As palavras se foram, mas a adrenalina continuava no quarto. Dessa vez acompanhada do silêncio que lhe agoniavam os tímpanos. O medo era perturbador, quase podia ser visto. A vontade idem e era recíproca, finalmente.

Os medos eram compartilhados, a dor era compartilhada. Assim como as palavras, a vontade de sorrir, o cessar das lágrimas e a libido forte.

Tocaram-se com ênfase. Era misto de saliva, adrenalina, paz, gozo, lágrima e alívio. Pena que o despertador tocou pra lembra-la de que a realidade renitente necessitava lhe abrir os olhos às nove da manhã.

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