Era quase hora, mas ainda se encontrava sentada na beira da cama desarrumada, com lençóis espalhados e fotografias jogadas. Vários dez por quinze’s de rostos, sorrisos, abraços amigos, amor e lembranças. O ponteiro grande avisava que a mochila velha e remendada já tinha de ser retirada de cima de toda aquela bagunça. O momento era bem propício a um olhar de quem procura o que nunca acha.
“Só mais cinco minutos”
A mesma cama encostada
na parede mofada. O mesmo lençol. A mesma mochila. O mesmo quarto onde antes
dançou, ao som de um mesmo Yan Tiersen, próximo à cortina de espirais da mesma janela aberta. Até o play list continua quase o mesmo de um ano atrás.
Cinco minutos e muito
que lembrar. O vento que entreva pela janela enfatizava a sensação já bem
conhecida dessa época do ano e bagunçava ainda mais os muitos fios soltos de um
cabelo fino, claro e antipático. Uma janela aberta e uma cortina de estampa balançante.
Espirais ondulantes e dançantes às lembranças. Trezentos e sessenta e dois dias
e um começo de nostalgia: O filme começa, o sorriso aparece e a lágrima se forma.
Tudo parece nítido e
recente. As Conversas e infinitas risadas em uma sala de aula de todos os dias.
Uniformes, papéis, tesouras em mãos e, quem sabe, no fim do expediente, um
sushi. Lamentos, Esperança, TCC e saudade.
As constantes brigas
que todos os dias ameaçam o fim de uma fase. O mesmo disco riscado. Lamentos,
comparações, desejos. Mentiras, esperança, saudade. Cerveja e papo furado. Risos,
libido e ofensas entre as indesejadas fumaças. Rompimento de um plano abstrato
e subjetivo.
A perda de quem a vida
obriga ir embora. De quem luta por anos ora em uma cama ora apenas vivendo e
sentindo. Força de vontade interrompida pelo que há de mais temido pela medicina
e inexplicável pelo homem. Velas, tristeza, família, memória, dor e a velha e
forte saudade.
É da vida, as pessoas
se afastam, crescem, trabalham, procriam, trabalham, namoram, trabalham, se
desentendem, se afastam e trabalham. Os amores vão embora, mas a amizade fica.
Não importa muito se a distância se faz tão presente quanto à saudade de
momentos de tempos atrás. O que importa é que amizade “é sempre amor mesmo que
mude”.
Cinco minutos e o ponteiro grita. É tão rápido quanto
trezentos e sessenta e cinco dias.
Enfim é hora de pegar
a mochila abarrotada de coisas e cair na estrada. A lágrima corre consciente de que mais doze
meses se aproximam. Consciente de que o fim do mundo não acabou e quem sabe
agora a coisa engrene. Quem sabe aquela felicidade de final de filme, onde todos
choram felizes, onde o amor sempre vence e a vida é tão linda quanto à trilha sonora
do casal que se beija, esteja presente na retrospectiva de dois mil e treze.
muito bom.....
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